quarta-feira, 9 de abril de 2008

Dicionário da mídia

A mídia adora criar termos e rótulos para melhor categorizarem seus interesses. Dessa forma, acabaram convencionando um dicionário de palavras a serem usadas de forma a articularem melhor uma distorção, permitindo criarem subjetividades e propagar suas ideologias.
É muito simples notar que na abordagem nos jornais, telejornais, revistas e portais na internet, sobre temas em comum, as palavras-chaves usadas são sempre as mesmas.

Alguns exemplos são:

O MST ocupando terras, torna-se "MST invade terras".
Negro pobre assassinado sumariamente torna-se rapidamente "traficante morto em confronto".
Presidente Fidel, nas bocas do PIG é "ditador Fidel".

A diferença do tom da notícia ao falar que o MST "invadiu" uma terra é crucial, mas pode não ser percebida na leitura superficial. Mas numa análise um pouco mais profunda podemos perceber a intenção em sentenciá-los, indiscutivelmente, como invasores, portanto, criminosos. O que, convenhamos, independente do apoio ou não ao MST, deveria caber à sociedade uma conclusão sobre fatos e não sobre preconceitos. Isso não é jornalismo.

Esse jogo de fáceis associações é a fórmula mais velha e conhecida, porém eficaz, da mídia para criar subjetividades. Incitações ao pensamento reacionário, conservador e, quando não ligados à ideologias puramente liberais, veiculadas de forma eleitoreira.

William Waack do Jornal da Globo é o precursor do termo narcoterrorista no Brasil, ao se referir às FARC (tem também narcoguerrilha).

De novo, concorde o leitor ou não com as FARC, o que é fato é que as ligações destes com o narcotráfico são muito menos evidentes/existentes do que as do presidente Álvaro Uribe, que antes de ser o vassalo do Império na América Latina, já figurou a lista dos 20 traficantes internacionais mais procurados pelos EUA (clique aqui e leia a biografia não autorizada de Uribe, em espanhol). No entanto, nunca ouvimos e provavelmente morreremos sem ouvir sair da boca de William Waack a denominação "narcopresidente" ao se referir a Uribe.

Hoje, dia 9 de abril, no portal G1 (da Rede Globo), a notícia sobre os parlamentares que um a um vão sendo cassados na Colômbia pelas suas ligações com grupos para-militares de opressão e tortura, evidencia uma outra "técnica" (clique aqui para ler a notícia). Enquanto tenta induzir o pensamento reacionário, a mídia também tem de se safar quando "a casa cai". Nesse caso, a técnica adotada, é a de fingir que não tem nada a ver com os criminosos. E para isso, nada melhor que uma nova nomenclatura: a Ultra-direita. Veja bem, Uribe é de direita. Os para-militares são de ultra-direita. Sendo assim, não têm nada a ver (?).

Só lembro o caro leitor, no entanto, de que toda essa escória que habita o parlamento na Colômbia é a base governista de Uribe, o maior ditador da América Latina da atualidade. Quando a base governista de Lula foram sendo indiciados por ilegalidades (uns justamente outros cassados sem provas), toda a mídia queria a cabeça de Lula. E, muito mais do que míseras 10 linhas e meia (característica de notícia de rodapé), criaram uma crise sem precedentes que atordoou o país com turbilhões de notícias sobre os "escândalos".

E agora? Por que não querem que Uribe caia? Tem a ver com ele ser pró-Bush? Tem a ver com ele ser anti-socialista? Reacionário? Conservador? De direita? Ultra direita?

Recomendo aos leitores que leiam bastante sobre Uribe e veja que tipo de gente a nossa mídia apóia. Leiam sobre os para-militares, leiam sobre suas ações na Colômbia e veja como este país está muito mais para uma ditadura que oprime a população, do que a Venezuela, ou Cuba, por exemplo.


(Em tempo: As estatísticas de aprovação do governo Uribe, segundo o G1 são de 82%. As FARC têm, em outras estatísticas, 60% da aprovação popular, o que torna a Colômbia uma nação de 142% de opinião pública).

Clique aqui e leia sobre o envolvimento de Uribe com o Cartel de Medelin.

Clique aqui para ler sobre os 40 anos das FARC.

Clique aqui para ler sobre a dinastia midiática no Brasil.

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